segunda-feira, 30 de agosto de 2010


NOTÍCIAS


Tributos pagos pelos brasileiros chegam a R$ 800 bilhões no ano

DE SÃO PAULO

Os tributos pagos pelos brasileiros neste ano devem atingir a marca de R$ 800 bilhões nesta segunda-feira, de acordo com a contagem do Impostômetro da ACSP (Associação Comercial de São Paulo).

No ano passado, a mesma quantia foi atingida apenas em 8 de outubro, o que indica que a arrecadação de tributos federais, estaduais e municipais está crescendo neste ano. Em 2008, tinha chegado nesta marca em 7 de outubro.

"Essa arrecadação tem duas fases: o lado positivo mostra que a economia está acelerada, mas em vez de tantas despesas deveria ter mais investimentos", diz Alencar Burti, presidente da ACSP.

A previsão para este ano é que ocorra um novo recorde de arrecadação nominal em comparação com o ano passado, que foi de R$ 1,09 trilhão. O número representou um aumento de R$ 36,01 bilhões ante 2008.

A carga tributária brasileira correspondeu em 2009 a 35,02% do PIB (Produto Interno Bruto).

HISTÓRICO

O Impostômetro foi inaugurado em 20 de abril de 2005. Pela "[internet]:http://www.impostometro.com.br/, é possível acompanhar o total de impostos pagos pelos brasileiros de acordo com os Estados e municípios.

Além disso, esse sistema revela o valor total de impostos pagos desde janeiro de 2000 e faz estimativas de quanto será pago até dezembro de 2010.

Folha de São Paulo – 30.08.2010

Saldo comercial entre Brasil e China continua em queda

Empresários reclamam da invasão de produtos manufaturados; maioria das vendas brasileiras são de matérias-primas

Paula Pacheco - O Estado de S.Paulo

Para os especialistas em comércio exterior, o crescimento das importações brasileiras da China em ritmo muito maior do que as exportações ao país asiático não é surpresa. Apesar de esperado, o fato preocupa.

Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), ligada ao Ministério do Desenvolvimento, de janeiro a julho as importações de produtos chineses aumentaram 45,12%. Já os embarques brasileiros para a China, no mesmo período, cresceram 27,07%. Em 2009, as compras de mercadorias chinesas caíram 26,17%. Aumento expressivo como o de 2010 só foi visto em 1995, quando as importações chinesas cresceram 51,07%.

Apesar do descompasso no crescimento, o saldo comercial entre os dois países ainda é favorável ao Brasil em US$ 9,2 bilhões. No ano passado, foi de US$ 25,3 bilhões.

Para Robson Braga de Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o crescimento de produtos chineses importados ameaça a competitividade brasileira. "Claro que é importante o Brasil continuar a exportar minério, soja e açúcar, mas não podemos deixar de exportar produtos manufaturados. O problema é que, para isso, temos de acabar com problemas como a infraestrutura inadequada para exportar e os impostos cobrados sobre as exportações."

Andrade acredita que o aumento da presença chinesa no País possa, entre outras consequências, inibir os investimentos de empresas nacionais. "Um empresário só investe se tem perspectiva de mercado, seja interno ou externo", alerta.

O presidente da CNI explica por que é tão difícil competir com produtos chineses no mercado brasileiro. "Não há isonomia. Convivemos com uma carga brutal de impostos, com um ambiente burocrático e com regras rígidas quanto ao uso da mão de obra. Já ouvi empresário chinês dizendo que brasileiro não gosta de trabalhar porque aqui a jornada é de 8 horas e lá é de 16 horas", compara.

José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), tem uma previsão pessimista. "A desvantagem para o Brasil vai aumentar. A China tem liberdade de ser mais ou ser menos agressiva no comércio. Enquanto isso, o perfil das exportações brasileiras para a China, que é 90% baseado em commodities, está atrelado aos preços internacionais, ou seja, fora de controle." Para piorar, lembra, as exportações brasileiras estão comprometidas pela desvalorização do dólar em relação ao real.

Apesar da aparente preocupação, vale lembrar que se não fosse pelos embarques de minérios e grãos para a mercado consumidor chinês, a balança comercial brasileira teria passado por um grande sufoco a partir de 2008, início da crise internacional.

Segundo Júlio Sérgio Gomes de Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) e professor da Unicamp, "já se pode afirmar que o desastre está próximo". "Os números da balança Brasil-China não são muito diferentes da média brasileira, mas o movimento chinês tem condições de ser muito mais rápido do que o de outros países pelo volume exportado", argumenta.

Para Almeida, o estrago na balança comercial só não foi maior porque os preços de commodities como minério de ferro e soja estavam bem favoráveis aos produtores brasileiros. "Independentemente do preço futuro, o Brasil poderá sofrer com a desaceleração das exportações chinesas para países como Estados Unidos, Japão e boa parte da Europa. Se isso se confirmar, as exportações de commodities vão cair e o placar vai ficar mais desfavorável", alerta Almeida.

Desequilíbrio

45,12% foi o crescimento das importações de produtos chinesas este ano, até julho. Na outra mão, as exportações brasileiras para o país asiático avançaram 27,07%.

OESP – 30.08.2010


Porto bate novo recorde de movimentação

De A Tribuna On-line

Após ter ultrapassado a marca histórica de sua movimentação no primeiro semestre de 2010, o Porto do Rio Grande (RS) volta a registrar novo recorde. Desta vez, os dados são referentes ao período correspondente aos sete primeiros meses do ano. De janeiro a julho de 2010 a movimentação atingiu 16,7 milhões de toneladas. Até então, o recorde era de 2008, quando as operações somaram 15,9 milhões de toneladas.

O volume de cargas atingido neste ano é 13% superior ao obtido no mesmo período de 2009. Os embarques foram responsáveis pelo maior volume, 10,8 milhões de toneladas, com alta de 3%. Já os desembarques se destacaram pelo crescimento de 37,7%, atingindo 5,8 milhões de toneladas. Por segmento de carga todos os setores tiveram incremento: granel sólido (+14,8%), carga geral (+15,5%) e granel líquido (+4,2%). Outro setor que teve acréscimo foi o de embarcações que contabilizou 1.876 unidades (+3,8%).

Os embarques de cereais somaram 6,3 milhões de toneladas, com alta de 2,6%. Entre as cargas com maior incremento neste setor estão o farelo de soja, com 1,3 milhão de toneladas (+17,6%) e o trigo, com 915,8 mil toneladas (+17,6%). Ainda registrou acréscimo as operações de óleo de soja (+11,6%), atingindo 243,9 mil toneladas. Outro destaque foi à cevada que chegou a 24,7 mil toneladas, enquanto que em 2009 essa carga não foi operada. Na contramão do crescimento ficaram os embarques de arroz (-37,8%), milho (-19,8%) e soja em grão (-1,7%).

Também obtiveram bom êxito os desembarques de cereais, com alta de 6,5%, somando 907,4 mil toneladas. Os destaques ficaram com o óleo de soja que aumentou 236,1% (62,9 mil toneladas) e com o farelo de soja que registrou acréscimo de 213,8% (366,4 mil toneladas). Na movimentação ainda foi agregado o desembarque de cevada, com 26,2 mil toneladas. As quedas ocorreram no recebimento de arroz (-84%), trigo (-55%) e soja (-17,3%).

Ainda teve crescimento, em comparação com 2009, a movimentação de contêineres, com aumento de 5,5%, totalizando 376,5 mil Teu´s (unidade equivalente a contêiner de 20 pés). O embarque e desembarque de contêineres de 2010 também é o maior da história do porto rio-grandino para o período correspondente aos sete primeiros meses do ano. Até então o recorde era de 2005 quando foram operados 373,3 mil Teu’s.

De acordo com o superintendente do Porto do Rio Grande, Jayme Ramis, a alta na movimentação deve-se a um cenário econômico positivo e aos grandes investimentos que estão sendo realizados pelo Estado, União e iniciativa privada.

“Este ano está sendo muito especial para Rio Grande: ampliamos o calado de 40 para 42 pés e, em breve, deverá chegar a 47 pés; estamos licitando a aquisição de um sistema de monitoramento de tráfego usado nos principais portos do mundo e inédito no Brasil; contamos com todos os canais dragados, e temos obras de modernização nos terminais do Superporto. Por isso tudo, acreditamos que chegaremos a 30 milhões de toneladas de cargas em 2010, batendo o recorde histórico de movimentação do porto rio-grandino”, destacou Ramis.

A Tribuna 29.08.2010

Comércio exterior do Mercosul é tema de encontro em Porto Alegre

Da Agência Brasil

Brasília - A importância da cultura exportadora no crescimento das exportações é o tema principal da segunda edição do Encontro de Comércio Exterior do Mercosul (Encomex-Mercosul), que será realizada amanhã (31) e depois no Centro de Eventos da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), em Porto Alegre.

O evento é organizado pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), com representantes dos setores público e privado dos países que compõem o bloco econômico, além da Venezuela.

A solenidade de abertura será nesta terça-feira, às 9h, com a presença do secretário executivo do MDIC, Ivan Ramalho, do secretário de Comércio Exterior do ministério, Welber Barral, da ministra da Indústria da Argentina, Débora Giorgi, do vice-ministro de Relações Exteriores do Uruguai, Roberto Conde, de representantes do Paraguai, da Venezuela e de diversos órgãos dos governos federal e do Rio Grande do Sul.

De acordo com o MDIC, no Encomex Mercosul também estão previstos, entre outros eventos, reuniões da Comissão de Monitoramento do Comércio Brasil-Uruguai, sobre promoção comercial do Mercosul e sobre a participação dos organismos multilaterais na integração produtiva. Será realizado ainda o seminário internacional Mercosul e Integração Regional: Mecanismos de Financiamento para Governos Locais e Regionais.

Edição: Graça Adjuto

Agência Brasil – 30.08.2010

São Paulo sedia encontro do Comitê Econômico e de Comércio Conjunto Brasil-Reino Unido

Da Agência Brasil

Brasília - Representantes do Brasil e do Reino Unido vão discutir em São Paulo a promoção do comércio entre os dois países. O 5º encontro do Comitê Econômico e de Comércio Conjunto (Jetco) será realizado amanhã (31) e depois no World Trade Center, na capital paulista. Estarão no evento representantes do governo e do setor privado. A proposta é criar um fórum de CEOs (dirigentes de empresas) Brasil-Reino Unido.

Estão sendo aguardados o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, e o ministro de Negócios, Inovação e Treinamento do Reino Unido, Vince Cable. Também estarão no evento o diretor de Planejamento e Gestão da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) , Ricardo Schaefer, e John Doddrell, da UK Trade and Investment (UKTI), similar à Apex.

O MDIC informou que entre os objetivos do encontro está a troca de experiências e informações com vistas à organização dos Jogos Olímpicos de Londres em 2012, da Copa do Mundo do Brasil em 2014 e das Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016.

O Jetco tem como objetivo principal estimular o crescimento do comércio e dos investimentos entre os dois países. É organizado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, pela Apex-Brasil, com o apoio do Ministério das Relações Exteriores, e pela UKTI, que promove o comércio exterior britânico.

Edição: Graça Adjuto

Agência Brasil – 30.08.2010

Japão afrouxa política monetária para conter alta do iene

DA REUTERS, EM TÓQUIO

O banco central do Japão expandiu seu programa de empréstimos baratos nesta segunda-feira, atendendo os pedidos do governo para agir contra a alta do iene que ameaça a fraca recuperação econômica do país, e deixando a porta aberta para mais afrouxamento monetário.

O iene saltou mais de 1% ante o dólar após o anúncio do banco, que investidores classificaram como um gesto simbólico que pouco fará para conter a valorização da moeda.

Banco central japonês mantém juros a 0,1% e estende medidas de flexibilização

"O movimento de hoje não é um movimento ousado", disse Simon Wong, economista do Standard Chartered Bank em Hong Kong. "Se o iene continuar a se apreciar, digamos que ele se aprecie além do nível de 80, isso pode levar a uma intervenção direta em algum ponto."

A decisão foi tomada durante uma reunião emergencial feita uma semana antes de um encontro regular do banco central.

O mercado ficou desapontado com o fato de o BC não ter adotados medidas mais agressivas, como aumentar a compra de bônus do governo japonês ou reduzir a taxa de juro de 0,1% para zero.

O presidente do BC, Masaaki Shirakawa, disse em entrevista coletiva que o atual patamar de compra de bônus é apropriado. Ele também afirmou que a autoridade não descarta reduzir sua previsão sobre a recuperação econômica, uma pista de que pode agir de novo se houver evidências mais claras de arrefecimento.

Nesta segunda-feira, o BC elevou o volume de dinheiro de sua operação de oferta de recursos a taxa fixa de 20 trilhões de ienes para 30 trilhões de ienes (US$ 351 bilhões).

O BC também anunciou uma operação de oferta de recursos de seis meses, em adição à de três meses já existente.

Dos 30 trilhões de ienes, 10 trilhões serão em operações de seis meses. A decisão foi tomada por 8 votos a 1, com o membro da diretoria Miyako Suda sendo o dissidente.

O banco lançou o programa de financiamento, que oferece empréstimos à taxa de 0,1%, em dezembro.

Folha de São Paulo – 30.08.2010

Déficit gigante é financiado por capital chinês

Denise Chrispim Marin CORRESPONDENTE WASHINGTON - O Estado de S.Paulo

WASHINGTON

Nas contas internas americanas, o déficit fiscal de US$ 13,3 trilhões tem na China o seu principal financiador. Até junho passado, Pequim detinha US$ 843,7 bilhões em papéis de longo prazo do Tesouro americano. Na outra mão, a China acumulou um volume extraordinário de reservas internacionais, algo como US$ 2,3 trilhões em setembro de 2009, com alta composição de divisas e bônus dos EUA. "O aumento do volume de dólares nas reservas chinesas, consequência de uma política deliberada do governo da China, é uma fonte contínua de tensão entre os dois países", afirma o relatório da Comissão EUA-China de Revisão da Economia e da Segurança.

Ambos os lados tiraram proveito dessas três vertentes - comércio, investimento direto, financiamento de dívida interna. Ambos igualmente se estranharam por conta delas. Em especial, em razão da taxa de câmbio. De 2005, quando Pequim adotou o modelo de "flutuação administrada" do câmbio em relação a uma cesta de moedas, até meados de 2009, a moeda chinesa acumulava desvalorização de 21% ante o dólar americano.

O câmbio desvalorizado favoreceu as exportações da China para os EUA e o resto do mundo, bem como inibiu o movimento contrário. Também tornou mais expressivo o capital americano aportado na produção chinesa e manteve o valor relativo das reservas internacionais do país. Mas igualmente elevou as preocupações de Pequim com a debilitada saúde da economia americana.

Por sua vez, Washington escolheu esse caminho de dependência da China. Encontrou em Pequim um bom comprador de títulos americanos, sempre de baixa remuneração, para financiar especialmente suas guerras no Iraque e no Afeganistão. A importação brutal de produtos chineses impediu a elevação da inflação em um país cujo consumo explodia até setembro de 2008. O investimento produtivo na China rendeu também remessas de lucro e maior competitividade para empresas americanas.

Segundo Lampton, uma nova frente surgiu nos últimos anos para aprofundar ainda mais a conexão econômica entre os dois países - o investimento produtivo da China nos EUA. Em 2005, a petroleira chinesa CNOOP investiu na compra da Unocal, corporação americana do setor. Mas, a operação foi proibida pelo Congresso americano por questão de segurança nacional. Três anos depois, pela mesma razão, foi abortada uma participação minoritária chinesa em uma empresa de telecomunicações dos EUA.

Em 2008, a China havia investido no setor produtivo americano US$ 1,2 bilhão, segundo a Câmara Americana de Comércio, em Xangai. Os recursos foram alocados especialmente na exploração de recursos naturais. Mas, há potencial enorme de se estenderem para os setores caros aos EUA, como os de computação e automotivo.

OESP – 30.08.2010

Crise global facilita expansão chinesa

Enquanto o mercado global mergulhava na crise financeira, chineses aproveitaram preços em queda para fechar bons negócios

Cláudia Trevisan CORRESPONDENTE PEQUIM - O Estado de S.Paulo

Enquanto o mundo mergulhou nos últimos dois anos na mais grave turbulência econômica em sete décadas, a China aproveitou a queda de preços globais e foi à busca de bons negócios, fechando operações que vão da compra da sueca Volvo à aquisição de minas e redes de transmissão de eletricidade no Brasil.

O volume de recursos destinados pelo chineses a investimentos produtivos em outros países deu um salto de 132% em 2008, para US$ 52,15 bilhões, e registrou queda amena de 9% no ano passado, quando o fluxo global despencou 43%, para US$ 1,1 trilhão.

Com US$ 48 bilhões em negócios fora de suas fronteiras, a China saltou da 12ª para a sexta posição no ranking dos maiores investidores do mundo em 2009, atrás apenas de Estados Unidos (US$ 248,07 bilhões), França (US$ 147,16 bilhões), Japão (US$ 74,67 bilhões), Alemanha (US$ 62,71 bilhões) e Hong Kong (US$ 52,27 bilhões), segundo dados da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad).

Mesmo com a recuperação dos preços dos ativos, o apetite chinês se mantém. Instituto de pesquisa ligado ao governo de Pequim estima que o fluxo de investimentos externos do país chegará a US$ 100 bilhões em 2013 e poderá igualar o valor do que a China receberá em Investimento Estrangeiro Direto (IED) dois anos mais tarde.

O governo de Pequim adotou há quase uma década a política de internacionalização das empresas do país, batizada de "go global", mas o movimento só ganhou impulso nos últimos anos, com a crise financeira mundial.

A maioria das transações está relacionada à aquisição de fontes de recursos naturais essenciais, como minérios e petróleo, mas os chineses também querem comprar tecnologias avançadas, ter acesso a redes de distribuição para suas exportações e atuar na área industrial.

Como em todas as regiões, a presença da China na América Latina também está em alta desde 2008 e a região assistiu nos últimos meses a uma sucessão de anúncios de negócios bilionários, incluindo o Brasil.

"Durante a crise, muitos produtores de commodities da América Latina não tinham acesso a capitais, enquanto os investidores de Estados Unidos e Europa ficaram sem recursos para investir. As duas coisas, aliadas à crescente demanda da China, levaram ao aumento dos investimentos do país asiático, que tinha dinheiro para realização de negócios", diz Erik Bethel, CEO do SinoLatin Capital, banco de investimentos especializado em negócios entre as duas regiões.

A queda no preço dos ativos também teve papel fundamental para o aumento da presença chinesa na região, observa Bethel. Apesar disso, ele acredita que os negócios tendem a aumentar ainda mais no futuro, mesmo com a recuperação dos preços.

A principal razão para isso é o forte ritmo de crescimento da China, que continuará a ser alimentado pelo massivo processo de urbanização. "Cerca de 400 milhões de chineses vão se mudar do campo para as cidades nos próximos 20 anos e esse processo vai aumentar a demanda", diz o executivo. Desde o início de 2010, a China anunciou negócios no valor de quase US$ 12 bilhões no Brasil. Entre os já realizados, o maior foi a compra de 40% do campo de petróleo Peregrino pela estatal Sinochem, uma operação de US$ 3,07 bilhões. Dois meses antes, a estatal CNOOC desembolsou US$ 3,1 bilhões por 50% da empresa argentina de petróleo Bridas.

Além de comprar ativos, a China tem concedido empréstimos que têm como garantia contratos de exportação de petróleo. O modelo foi usado no ano passado no financiamento de US$ 10 bilhões dado pelo Banco de Desenvolvimento da China (BDC) à Petrobrás. Acordo semelhante, mas no valor de US$ 20 bilhões, foi fechado em abril entre o banco chinês e o governo da Venezuela. A China é o segundo maior consumidor e importador de petróleo do mundo, depois dos Estados Unidos, e tem uma dependência crescente de fornecedores estrangeiros.

No ano passado, o país importou 52% do petróleo que consumiu e o governo estima que o porcentual chegará a 65% em 2020.

OESP – 30.08.2010

Escapar do 'made in China' é missão quase impossível

Produtos chineses marcam presença em qualquer lugar do mundo, levando o país asiático à primeira posição entre os exportadores

Cláudia Trevisan CORRESPONDENTE PEQUIM - O Estado de S.Paulo

Não importa onde você esteja no planeta Terra, escapar do "Made in China" é uma missão quase impossível. Apelidado de "fábrica do mundo", o país asiático passou da sétima à primeira posição no ranking dos maiores exportadores do mundo em um período de dez anos e deixou para trás o estigma de que vende apenas produtos de baixa qualidade.

Os chineses continuam a exportar as bugigangas que alimentam as lojas de R$ 1,99 no Brasil, mas subiram vários degraus na escala de valor agregado e despacham para o mundo máquinas, computadores, chips, trens, televisões, celulares, aparelhos de DVD, impressoras e fornos de micro-ondas.

Em 2008, os produtos manufaturados responderam por 94,5% das exportações chinesas, que somaram US$ 1,43 trilhão. Entre os industrializados, as vendas de máquinas e de equipamentos de transporte representaram 50% do total, com US$ 673 bilhões.

Mas a subida na escala de valor na pauta de exportações não se deve apenas à inovação chinesa. Parte significativa dela ocorreu em razão da transferência para o país de linhas de montagem de multinacionais em busca de mão de obra barata, câmbio competitivo e incentivos do governo.

Marcas consagradas que vão da Nike à Apple abriram fábricas na China ou terceirizaram a produção a gigantescas empresas que entregam as mercadorias a preços bem mais baixos do que será cobrado do consumidor - a concepção e o desenho dos produtos são feitos nos países de origem das multinacionais.

A estrela do modelo de terceirização é a taiwanesa Foxconn, que emprega 400 mil pessoas em um único complexo na cidade de Shenzhen, no sul da China, de um total de 920 mil trabalhadores no país. Em agosto, a companhia anunciou que pretende ampliar para 1,3 milhão o número de seus funcionários chineses até o fim de 2011.

Das linhas de montagem da Foxconn, saem produtos concebidos por gigantes como Apple - incluindo o iPhone e o iPad -, Intel, Hewllet-Packard, Cisco, Dell, Motorola e Nintendo. Recentemente, incorporou a seu portfólio o Kindle, da Amazon.

A Foxconn não tem marca própria, mas é a maior fabricante de produtos eletrônicos e de computadores do mundo e a maior exportadora individual da China. Em 2008, a empresa despachou para outros países US$ 61,8 bilhões, o equivalente a 31% do total das exportações brasileiras no mesmo período.

Máquina. Casos como esses explicam por que companhias estrangeiras foram responsáveis por 55% das exportações chinesas em 2008, o que levou Pequim a lançar uma campanha publicitária para substituir o "made in China" pelo "made with China".

Maior companhia de Taiwan e ocupante da 109.ª posição entre as integrantes da Global 500, da Fortune, a Foxconn também reflete as duras condições de trabalho na China e os conflitos gerados pela contratação de migrantes que deixam suas famílias na zona rural para viver em gigantescos dormitórios nas fábricas. Desde o começo do ano, 14 de seus empregados tentaram suicídio, 11 dos quais morreram. Outras empresas criadas no mesmo espírito da Foxconn produzem brinquedos, roupas, sapatos, eletrodomésticos, enfeites, móveis, artigos esportivos, cosméticos, meias e relógios para marcas de outros países.

Algumas estatísticas dão a dimensão da máquina de exportação na qual o país se transformou e mostram a diversidade de sua indústria. Em 2008, a China despachou ao exterior 1,13 bilhão de pares de sapato, 700,23 milhões de telefones, 550,36 milhões de relógios de pulso, 123,64 milhões de câmeras e 51,38 milhões de televisores, de acordo com o China Statistical Yearbook 2009.

Depois de atingirem US$ 1,43 trilhão em 2008, as exportações do país caíram para US$ 1,2 trilhão no ano passado, em razão da crise mundial. Ainda assim, a China ultrapassou a Alemanha e assumiu a primeira posição no ranking dos maiores exportadores, com 9,6% das vendas globais. No ano 2000, a China estava em sétimo lugar, com embarques de US$ 249,2 bilhões, o equivalente a 3,9% do total.

Enquanto a China aumentou em 2,5 vezes sua fatia das exportações mundiais, o Brasil passou de 0,9% para 1,2% no mesmo período, uma expansão de um terço. Em 2000, os embarques brasileiros somaram US$ 55,1 bilhões e o país estava na 28.ª posição no ranking dos maiores exportadores. No ano passado, o país subiu para o 24.º lugar, com vendas de US$ 153 bilhões.

OESP – 30.08.2010

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