quarta-feira, 21 de outubro de 2009


Brasil é "vítima do próprio sucesso econômico", diz "Financial Times"

da BBC Brasil

Em reportagem publicada nesta quarta-feira, o diário britânico "Financial Times" afirma que o Brasil é "vítima do seu próprio sucesso econômico" --razão pela qual anunciou a taxação de 2% sobre o capital estrangeiro.

Em quatro artigos dedicados ao tema em quatro seções diferentes, o jornal aposta ainda, como outros, que a iniciativa deve ser pouco eficiente no objetivo de conter a apreciação do real frente ao dólar. "O principal objetivo do governo é combater a volatilidade", diz o "FT".

O artigo mais noticioso, que ganha espaço na primeira página, afirma que, "se o governo está tentando conter o avanço estável do real em relação a outras moedas com a taxa de 2%, muitos estão céticos quanto à hipótese de dar certo".

É que, diante das boas perspectivas para o país, a atração de capital externo tem crescido a passos largos. "O Brasil se tornou vítima de sua própria resistência à crise", diz o correspondente do jornal em São Paulo.

No momento em que grande parte do mundo ainda sofre com os efeitos crônicos da recessão, o país "deu os ombros" para a crise e está "voltando rapidamente para um forte crescimento", afirma o diário.

Como explicou um analista, citado em uma segunda matéria, com a taxa o governo brasileiro "está lutando contra todo o mercado". "Todo mundo quer estar no Brasil neste momento", disse, ao jornal.

Em dois outros artigos, mais analíticos, o "FT" avalia outras razões para a apreciação do real. O jornal diz que, se tiver sido unicamente por causa da riqueza gerada - rapidamente - pela alta das commodities, há razões para impor a taxa e tentar evitar a especulação financeira.

"Por outro lado, se a força do real se dever à permanente mudança nos termos de comércio do Brasil, há pouco que o governo possa fazer. Uma taxa de câmbio sobrevalorizada pode reduzir a competitividade, mas a resposta a isso é mais produtividade."

"Pelo menos o real forte faz os brasileiros se sentirem mais ricos, um bônus político antes das eleições do ano que vem", diz o "FT". Além disso, diz o jornal, a taxa que torna menos atrativo o capital de curto prazo também torna menor a saída de recursos à medida que a recuperação econômica melhorar a atratividade de outras partes do mundo.

Para o jornal, "esta ação preventiva é um sinal promissor do amadurecimento financeiro do Brasil".

Outros jornais

Em outros jornais estrangeiros, a taxação de capital estrangeiro também ganhou destaque.

Para o americano "Wall Street Journal", a medida "sublinha a enorme demanda dos investidores por ativos brasileiros, no despertar da crise financeira global. O forte sistema bancário e a classe consumidora ajudaram a anular o efeito da desaceleração econômica, tornando a nação sul-americana um dos poucos lugares bem-sucedidos no mundo".

Nas palavras do "Cinco Días", o maior diário financeiro da Espanha, "o escolhido para os Jogos Olímpicos de 2016 está em moda, mas se recusa a se converter na próxima bolha especulativa". Para o jornal, a "disparada" do Brasil é indiscutível, mas "a entrada de divisas também tem seu lado negativo, algo que, nos últimos anos, a Islândia pôde comprovar".

O também espanhol "El País" observa que "a primeira grande crise da globalização deixa, até o momento, dois grandes ganhadores: os emergentes asiáticos e o Brasil". "Em ambos os casos o sucesso tem seus perigos", diz o jornal. "A bolsa brasileira subiu mais de 70% e o real se valorizou mais de 30% no ano: dois sinais de fortaleza, mas também de um perigoso reaquecimento."

Nas palavras do argentino "Clarín", a iniciativa do governo tem por objetivo "evitar que os investidores estrangeiros convertam o Brasil no que se define, em português, como a bola da vez, ou seja, o país do momento para os grandes ganhos oportunistas".

Folha Online – 21.10.2009


Taxação de IOF sobre estrangeiros ameaça Bolsa e lançamento de ações

TONI SCIARRETTA
DENYSE GODOY
da Folha de S.Paulo

A taxação via IOF de 2% para investidores estrangeiros em renda variável ameaça a captação de empresas brasileiras no mercado de capitais e diminui a competitividade da BM&FBovespa nos negócios com ações no Brasil, que tendem a migrar para a Bolsa de Nova York.

Para o presidente-executivo da BM&FBovespa, Edemir Pinto, o imposto cria um "pedágio" alto, estimula o estrangeiro a negociar papéis brasileiros no exterior e pode fazer um "estrago" semelhante ao da extinta CPMF, que era de 0,38% e segurou o mercado no período de menor abundância de capitais.

O mercado brasileiro é visto como um dos mais dinâmicos do mundo. As aberturas de capital e oferta de ações somaram R$ 37 bilhões só em 2009, sendo que 65% dos recursos vieram de estrangeiros. Esse investidor terá agora de somar 2% -correspondente a um ano do retorno da renda fixa nos EUA e Europa- a qualquer perspectiva de ganho no país.

A medida levou sete entidades do mercado de capitais --Abrapp (associação dos fundos de pensão), Abrasca (empresas abertas), ABVCap (capital de risco), Anbid (bancos de investimento), Andima (instituições do mercado) Amec (minoritários) e a própria Bolsa-- a rechaçarem a tributação, afirmando que ela reduzirá a capacidade de financiamento do país num momento em que grandes obras necessitam de capital. "[A medida] Reduz a capacidade do mercado de capitais brasileiro de exercer seu papel mais fundamental, o de financiar o desenvolvimento."

O Ibovespa chegou ontem a cair mais de 4% e terminou o dia com baixa de 2,88%. Só a BM&FBovespa perdeu R$ 2,3 bilhões em valor de mercado, após queda de 8,41% nas ações.

Na avaliação do Itaú BBA, banco de investimentos do Itaú Unibanco, o IOF punirá as empresas de menor porte que pretendam captar recursos na Bolsa, mas não tenham acesso ao mercado externo, como o Banco Santander, que lançou papéis simultaneamente no Brasil e no exterior. "Para evitar a taxação, grandes empresas podem ser levadas a captar no mercado internacional. O impacto deve recair sobre as pequenas e médias empresas. Devemos observar uma diminuição -ou crescimento menor- de fundos para empresas menores que pretendiam fazer captações por IPOs."

Para Eduardo Rocha Azevedo, fundador da antiga BM&F e ex-presidente da Bovespa, o investidor estrangeiro de grande porte preferirá comprar ações brasileiras em Nova York, onde consegue negociar grandes lotes com custos médios menores do que no Brasil. "O governo não tem a menor sensibilidade para o mercado de capitais. Se taxa em 2%, o pessoal [estrangeiro] vende ação aqui e vai negociar fora, que não tem imposto. As empresas, em vez de abrir o capital aqui, vão fazer em Nova York. O Banco do Brasil está querendo lançar ações em Nova York. É um banco brasileiro, do governo, que busca fortalecer o país, mas que vai colocar ações em Nova York. Foi uma medida pífia, que não vai fazer com que o dólar suba."

Hoje, 33 empresas brasileiras têm seus papéis negociados nos EUA. Segundo a consultoria Economática, 60,3% dos negócios com esses papéis se dão em Nova York e só o restante no Brasil. No caso das ações ON (com direito a voto) da Petrobras, a Bolsa de Nova York concentra hoje 91,5% dos negócios.

Para Rodrigo Pasin, especialista em IPO da Value Consultoria, o IOF não chega a inviabilizar a entrada dos estrangeiros nas captações, mas se tornou um fator relevante. "Atrapalha mais no curto prazo", disse.

Para Cameron Brandt, analista da consultoria EPFR Global, que mapeia os movimentos internacionais dos fundos de investimento, a taxação contribuirá para diminuir o interesse pelo Brasil depois de alguns meses. "Pela nossa experiência, as nações que adotam algum tipo de controle de capital acabam sofrendo, especialmente quando há alguma crise interna ou externa", afirma. "Além disso, as mudanças repentinas de ideia do governo quanto às regras também prejudicam um pouco a reputação do país."

Já José Costa Buck, da T. Rowe Price, uma das maiores administradoras de recursos dos EUA, diz que a medida terá um impacto pequeno na atratividade do Brasil aos olhos dos estrangeiros. "Pensando no longo prazo, 2% é pouco em vista dos ganhos que o país oferece."

Folha de São Paulo – 21.10.2009

Cobrança de IOF é retrocesso, dizem bancos estrangeiros

A cobrança de 2% de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre o capital estrangeiro no Brasil foi apontada como "retrocesso" e considerada possivelmente inócua por investidores e instituições oficiais, entre elas o FMI (Fundo Monetário Internacional), informa Fernando Canzian, em reportagem da edição da Folha desta quarta-feira (íntegra disponível para assinantes do UOL e do jornal).

O IIF (Instituto de Finanças Internacionais, na sigla em inglês), que reúne os maiores bancos do mundo, considera que o governo brasileiro optou pela taxação quando deveria atacar "o problema fiscal" no país. Ramón Aracena, economista do IIF voltado para o Brasil, diz que a taxação representa um "retrocesso", mas que o instituto vê o Brasil "de maneira muito positiva, mas agora com mais atenção por conta de mudanças de políticas".

O diretor para o Hemisfério Ocidental do FMI, Nicolas Eyzaguirre, disse que a medida pode ser inócua para controlar o volume de entrada de capital especulativo. "Esse tipo de mecanismo oferece algum poder de manobra, mas não muito. Com a engenharia financeira atual, não é muito difícil disfarçar fluxos de dólares puramente especulativos como se fossem provenientes de comércio exterior ou mesmo de investimentos produtivos", disse.

O ministro Guido Mantega (Fazenda) afirmou na segunda-feira (19) que o objetivo é afastar o capital de curto prazo --o chamado de especulativo. "Se a aplicação for de curto prazo, essa tributação será forte", afirmou. Por outro lado se a taxa for de longo prazo, acima de um ano, "essa tributação se dilui no tempo, praticamente desaparece". "Nossa preocupação é que haja excesso de especulação", disse Mantega.

A medida teria sido tomada após levantamentos do governo mostrarem crescimento acentuado na entrada de capital especulativo no país.

De junho a agosto, o ingresso desse tipo de capital somou US$ 322 milhões, enquanto nos três meses anteriores, deram entrada no país US$ 186 milhões em capital de curto prazo. No total, segundo o ministro, do início do ano até agora, entraram líquidos US$ 20 bilhões em aplicações de estrangeiros na Bolsa de Valores. A alta contribui para valorizar o real e dificulta a exportação.

Folha Online – 21.10.2009

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