quarta-feira, 25 de julho de 2012


NOTÍCIAS

Com greve nos portos, liberação de navios será centralizada em Brasília

JOHANNA NUBLAT
DE BRASÍLIA

O Ministério da Saúde divulgou nesta quarta-feira (25) algumas das medidas que serão aplicadas aos portos e aeroportos, numa tentativa de contornar a greve de servidores da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que promete atrasar a entrada de algumas mercadorias no país e o atracamento de navios.

A agência é responsável por fiscalizar e autorizar o atracamento de boa parte dos navios que circulam pelos portos brasileiros, além de analisar os produtos importados que tenham relação com a saúde (como medicamentos e equipamentos para hospitais).


Segundo o ministro Alexandre Padilha, nos portos onde houver paralisação das atividades a ponto de dificultar o atracamento dos navios, essa autorização será dada diretamente pela Anvisa em Brasília --e não mais pelos portos.

Outra medida será usar os serviços das esferas estaduais e municipais, sob supervisão da Anvisa, para fazer a análise das mercadorias que entrarem no Brasil.

"Estamos fazendo avaliações diárias [sobre a necessidade de chamar as vigilâncias locais]. Até agora, não está sendo necessário", explicou Padilha.

O ministro descartou a possibilidade de falta de remédios nas farmácias, um temor que já circula entre os laboratórios farmacêuticos. "Não existe qualquer risco de desabastecimento de medicamentos", disse Padilha. E isso, afirmou o ministro, tanto pela decisão dos grevistas de manter a entrada das mercadorias tidas como essenciais quanto pela proposta de convocar as vigilâncias locais para a triagem das mercadorias.

Essas medidas estão alinhadas com o decreto publicado nesta quarta-feira pelo governo federal, diante de um possível nó nos portos brasileiros. Segundo Padilha, a Anvisa deve apresentar todo o rol de medidas que serão tomadas.

Folha de São Paulo – 25.07.2012

Decreto de Dilma garante serviços essenciais

TÂNIA MONTEIRO - Agência Estado

O ministro-chefe da Advocacia-Geral da União, Luis Inácio Adams, declarou ao Estado que o decreto assinado pela presidente Dilma Rousseff publicado nesta quarta-feira no Diário Oficial da União tem por objetivo "garantir o funcionamento de setores essenciais no País, que estão sendo afetados pela paralisação de diversos setores", como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Receita Federal.

A partir de agora, depois da publicação do decreto, segundo Adams, cada ministro terá de assinar convênios com Estados e municípios para assegurar o funcionamento dos setores essenciais que estão paralisados, o que deverá ser feito imediatamente. Ele acredita que a medida irá resolver o problema. Mas avisou que, em um segundo momento, o governo poderá ingressar na Justiça para garantir o funcionamento dos serviços essenciais, de acordo com o pedido de cada ministério.

"É preciso que as atividades essenciais sejam retomadas o mais rápido possível", disse o ministro. Adams explicou ainda que "o decreto veio para simplificar o procedimento de liberação de mercadorias que estavam paradas, para garantir o fluxo de entrada de produtos no País". Segundo ele, "os serviços essenciais, como desembaraço aduaneiro, que pode trazer risco à economia porque atrapalha quem importa, ou no caso de medicamentos que estão sendo aguardados pelo País para salvar vidas, têm de ser preservados". Para ele, "esta medida vai surtir o efeito desejado".

Depois de comentar que o corte dos dias parados já está sendo feito por alguns ministérios, como determina a lei, o advogado da União advertiu que os dirigentes de órgãos públicos, como os reitores que não estão dando falta aos servidores que estão em greve, estão sujeitos a ações, por parte do Ministério Público, de improbidade administrativa. "Os dirigentes estão arriscados a sofrerem ações disciplinares e de improbidade administrativa para garantir o cumprimento da lei", afirmou ele, ao citar que a Universidade de Brasília é um caso clássico de não desconto de dias parados, com prejuízo para alunos e sociedade. "Não há greve sem desconto", comentou ele, ao citar que em alguns casos pode até ser negociada a compensação.

O ministro da AGU defendeu ainda a regulamentação da lei de greve, mas lembrou que o tema depende de ampla discussão com a sociedade e aprovação pelo Congresso. "É uma medida necessária e urgente", enfatizou ele, ressalvando que a medida passa por um amplo debate no Congresso e é preciso se chegar a um acordo político para votá-la, já que não pode ser proposta por meio de uma medida provisória e, sim, por um projeto de lei.

Adams lembrou, no entanto, que já existe uma decisão no Supremo Tribunal Federal que determina a aplicação da lei geral de greve, usada para o setor privado, para o setor público. "Isso está em vigor e tem sido efetivo, tem dado bom resultado, seja por ação judicial, seja por ações administrativas, como desconto dos dias parados dos grevistas", declarou.

OESP – 25.07.2012


O desbalanço externo

Rolf Kuntz

Todas as grandes crises da economia brasileira, nos últimos cem anos, estouraram quando se perdeu o controle das contas externas. Talvez por falha de memória, a presidente Dilma Rousseff e seus ministros da área econômica vêm menosprezando os sinais de alerta no balanço de pagamentos. Há uma clara tendência à erosão do saldo comercial, causada pela estagnação do valor exportado e pelo rápido aumento das despesas com importações. As projeções mais otimistas indicam para este ano um superávit de US$ 18 bilhões na conta de mercadorias, 39,6% menor que o do ano passado. Nova redução é prevista para 2013. A médio prazo, isso pode levar a uma perigosa expansão do déficit em conta corrente (US$ 51,8 bilhões nos 12 meses terminados em junho), até agora financiado com alguma folga pelo investimento estrangeiro direto. As transações correntes são formadas por três contas: 1) balança comercial de mercadorias; 2) balança de serviços (onde se incluem turismo, fretes, assistência técnica, royalties, lucros e juros); 3) transferências unilaterais (onde aparecem, por exemplo, remessas de trabalhadores no exterior).

O Brasil é tradicionalmente superavitário no comércio de mercadorias e nas transferências unilaterais e amplamente deficitário em serviços. Um grande superávit comercial é geralmente necessário para equilibrar o conjunto ou para manter o déficit em conta corrente dentro de limites seguros. Financiado com poupança externa, um pequeno buraco nas transações correntes pode favorecer o investimento produtivo e o crescimento econômico. Mas o financiador estrangeiro tende a sumir, quando o rombo cresce muito e aumenta a necessidade de recursos de fora. O Brasil passou por essa experiência várias vezes.

Em anos recentes, o grande aumento de preços dos produtos básicos, explicável em boa parte pela demanda chinesa, garantiu ao País uma situação relativamente confortável. Mas as cotações de vários produtos são hoje menores do que em 2011 e essa tendência pode acentuar-se. Apesar de sua ampla base industrial, o Brasil é hoje muito dependente do mercado de commodities. Com a alta dos preços de matérias-primas e bens semielaborados, os termos de troca ficaram muito favoráveis ao País.

Se a relação entre os valores de exportações e de importações voltasse ao nível de 2005, o déficit brasileiro na conta corrente, em 2011, teria chegado a 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo estimativa do Fundo Monetário Internacional (FMI). Nos 12 meses até junho, esse déficit ficou em 2,2%, de acordo com o Banco Central (BC).

Aquele cálculo do FMI, semelhante a alguns divulgados nos últimos dois anos, mostra como o País se acomodou numa relação semicolonial com a China – uma das consequências da política terceiro-mundista em vigor a partir de 2003. Com uma estratégia mais adulta, o Brasil teria abastecido os chineses de matérias-primas e ao mesmo tempo ampliado o comércio com os mercados do mundo rico, muito mais receptivos aos manufaturados brasileiros, como comprovam as estatísticas oficiais.

Com base nas tendências recentes, os técnicos do FMI projetaram a evolução das contas externas até 2017. As estimativas apontam um saldo comercial de US$ 9,9 bilhões para este ano e uma erosão constante nos anos seguintes, até um déficit de US$ 3 bilhões dentro de cinco anos. Nesse período, o valor exportado aumentará 32% em relação ao registrado em 2011 e chegará a US$ 338 bilhões em 2017. O valor importado crescerá 50,7% e atingirá US$ 341 bilhões. O déficit em conta corrente alcançará 3,3% do PIB.

São projeções, como sempre, sujeitas a erros importantes, até porque há muita insegurança quanto aos resultados do projeto de exploração do pré-sal. Os autores do relatório chamam a atenção para os fatores de incerteza. Mas enfatizam, também, os riscos embutidos na política em vigor, muito mais voltada para o estímulo ao consumo do que para a formação de poupança interna, para o investimento e para o ganho de eficiência. A análise das perspectivas de médio prazo é a parte mais importante do relatório do FMI divulgado na semana passada. Os detalhes sobre as contas externas foram a parte menos explorada nos meios de comunicação.

O governo insiste, no entanto, em manter a estratégia seguida até agora, como se os principais obstáculos ao crescimento brasileiro fossem conjunturais. Não são. O pessoal do FMI sabe disso e projeta, para os próximos cinco anos, um crescimento médio de apenas 4,1%. Para romper esse limite será preciso aumentar o potencial de crescimento, muito menor que o de outros Brics e de muitos países menos industrializados. No Brasil, o investimento público permanece em torno de 2,5% do PIB, menos de metade do observado nos demais emergentes. Um exame da qualidade desse investimento mostraria um quadro ainda mais feio. Também isso o governo prefere deixar para lá.

OESP – 25.07.2012

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